Grande mostra retrospectiva esta, no Sesc Pompeia (em cartaz até 31/07/2016). Hoje pude ver metade dela; assim tenho uma excelente desculpa para ir lá outra vez. E foi uma alegria REVER trabalhos de Augusto que já são como velhos amigos de toda uma vida para mim. Desde “eixoolho/polofixo” (que considero perfeito na sua concisão), “caracol” e “eis os amantes” (este, da série Poetamenos), que foram os primeiros poemas que vi interpretados ao vivo, pelo Trio ExVoco alemão; passando por “comsom/semsom“, o primeiro poema que tentei explicar para um colega, ainda no ensino médio; e assim por diante… Também devem estar lá (na parte que ainda falta visitar) o “miragem” (“incerto ser inserto”), que foi o poema que musiquei para voz (soprano ou tenor) e violão, e mostrei ao poeta; o poemalivro “não“, que ganhei autografado do autor; e “no/turna noite” (da série “ovonovelo“, que termina com “preta letra que se torna sol” — este, que usei como dedicatória em um livro que dei de presente à minha mãe muitos anos atrás).
Um ponto altíssimo é poder ver os rascunhos e provas datilografadas de muitos poemas (inclusive os Poetamenos com os carbonos coloridos utilizados pelo autor). Achei particularmente interessante encontrar algumas leituras de poemas que não utilizam vídeo nem computador nem projeção, como por exemplo “vida” e “Código“, que são, em vez disso, cuidadosamente montados e iluminados no suporte material. Bacana esse retorno às origens. Poesia concreta tem que ter a concretude da matéria, além da concretude “verbivocovisual” da palavra… Legal também foi ver a mostra de livros publicados por Augusto e constatar que tenho pelo menos uns bons vinte e seis deles, reunidos ao longo de anos e anos… inclusive, claro, o Viva vaia, com o qual meu pai me despertou numa bela manhã de sábado, quando eu ainda era moleque adolescente. Ele havia ido cedo ao centrão de SP e comprado o livro, que sabia que eu tanto queria, para me dar de presente…
O destaque maior, na exposição, é dado aos trabalhos autorais de Augusto, mas não se deve esquecer seu volumosa obra de tradução poética. Minha concepção, em particular, do que é a tradução deve muitíssimo à influência desse mestre.
A esmagadora maioria dos trabalhos de Augusto, seja de que época forem, não perdeu seu frescor e não ficou “datada” com a passagem do tempo — porque é verdadeira poesia, e da boa. Seus poemas continuam a pairar como faróis a alumiar nossos espaços pessoais poéticos, emotivos e mentais. É, com efeito, um “poeta de campos e espaços”, como disse Caetano.
Serviço completo da mostra aqui: http://www.sescsp.org.br/programacao/89797_REVER+AUGUSTO+CAMPOS#/content=saiba-mais